O vinho nunca esteve tão barato por aqui
Maior concorrência nas prateleiras reduz preço e atrai a nova classe média
Foto: Divulgação
Prateleiras repletas: preço acessível para a nova classe média
Ismael Pfeifer, São Paulo
O vinho nunca foi tão acessível ao brasileiro como agora. No país da cerveja e da cachaça, a bebida relegada até há pouco tempo a comemorações e que já foi boicotada por ser símbolo do colonialismo europeu, está cabendo no bolso da ascendente classe média brasileira.
Não há pesquisas consolidadas sobre o fenômeno, mas alguns indicadores confiáveis demonstram que os preços dos vinhos – tanto os “finos”, produzidos com variedades européias, como os “de mesa” ou “de garrafão”, produzidos com uvas típicas americanas – estão se mantendo quase inalterados nos últimos seis a sete anos. E mesmo quando sobem, estão sendo reajustados bem abaixo da inflação.
O fenômeno decorre, primeiro, do aumento da concorrência entre os vinhos importados de países como Chile, Argentina, Itália e Portugal, os tipos “finos” mais vendidos por aqui. A quantidade de marcas disponíveis nas prateleiras se multiplicou na última década – incluindo aí, os produtos nacionais, campeões de venda e cada vez melhores e mais variados.
O chileno Santa Helena, provavelmente o vinho fino mais vendido no país, mantém quase intactos os preços nos últimos 5 a 6 anos. O Santa Helena cabernet reservado, por exemplo, era vendido em 2007 (safra 2004) por preço médio de R$ 22, praticamente o mesmo de hoje (da safra 2010). É o mesmo caso do argentino Finca Flichmann Roble malbec, que custava entre R$ 18 a R$ 20 há seis anos, preço idêntico ao atual. Outro argentino, o Nieto Senetiner malbec, de gama um pouco mais alta, se mantém ao redor dos R$ 30 aos R$ 32 no mesmo período. Também o brasileiro Miolo reserva cabernet sauvignon, vendido em 2007 por cerca de R$ 26, hoje gira ao redor dos R$ 29 (aumento de pouco mais de 10% em cinco anos).
No mesmo período, entre 2006 e 2011 a inflação brasileira ao consumidor (IPCA) foi de 41,6%. Também a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de preços de produtos típicos da cesta de Natal do brasileiro mostra que o ajuste do vinho tem ficado bem abaixo da inflação. Entre 2006 e 2011 a bebida (considerando preços de vinhos de mesa, ainda os mais consumidos no Brasil) subiu apenas 6.4% -- e no fim do ano passado, chegou a dar marcha à ré de 1,17% em relação ao Natal de 2010.
“A maior concorrência e o dólar baixo, que barateia a importação, parecem ser a chave dos preços mais acessíveis dos vinhos”, avalia o economista André Braz, responsável pela pesquisa da FGV.
Carlos Cabral, um dos principais enólogos brasileiros e consultor para vinhos do Grupo Pão de Açúcar – o maior vendedor de vinhos no varejo do país --, assegura: “O vinho nunca esteve tão barato no Brasil”. E ele dimensiona: “Hoje é possível comprar bons vinhos, que não vão para o tonel, mas que são honestos, a partir de R$ 19. Mesmo os maturados em barris já são encontrados por R$ 26 a R$ 27”, resume.
Cabral é o responsável por criar a figura do atendente de vinho nas lojas da rede de supermercados, uma maneira de informar o novo consumidor sobre a variedade de produtos. “Mas sem frescura. Nossos atendentes falam a língua das pessoas que ainda não conhecem muito do produto, mas querem saborear um vinho sem gastar muito”, explica Cabral, que relata um aumento nas vendas das lojas com esse tipo de profissional de 30% já nos primeiros meses.
O Pão de Açúcar vendeu no ano passado 17,4 milhões de garrafas de vinho em suas quase 600 lojas. 44% são vinhos nacionais e 70% são vinhos de mesa – os vinhos finos (feitos com uvas européias) representam 30%. Trata-se de um crescimento de quase 250% em 11 anos, já que em 2000, o grupo havia comercializado pouco mais de 5 milhões de garrafas. “O vinho deixou de ser bebida apenas da elite brasileira. Há até 10 ou 15 anos, as classes B e C só tomavam vinho para comemorar alguma coisa. Hoje já é bebida para acompanhar uma refeição comum para muita gente.”
Quando se fala em barateamento do vinho para o consumidor brasileiro, porém, leva-se mais em conta os preços nas prateleiras dos supermercados e das lojas especializadas do que os cobrados em restaurantes. Nesses locais, os valores ainda são muito altos. As margens sobre os preços de custo superam muitas vezes os 100% e dificilmente um vinho encontrado no supermercado por R$ 20 a R$ 25 custará menos do que R$ 45 num restaurante.
Mas mesmo nesses locais cresceu bastante a oferta de vinhos em meias garrafa e em taça. A modalidade, que também cresce em países europeus, resultado da crise econômica por lá, torna-se cada vez mais uma maneira de beber bons vinhos sem gastar muito – uma taca encorpada de bom tinto custa nos restaurantes de São Paulo entre R$ 15 e R$ 20 e é suficiente para acompanhar uma refeição.
“O vinho está se democratizando para o brasileiro. Os novos consumidores brasileiros da classe C estão descobrindo a qualidade dessa bebida e perdendo o medo de mudar para ela. E esse movimento não tem volta”, conclui Cabral, considerado um dos principais responsáveis pela crescente popularização do vinho no país.
O vinho nunca foi tão acessível ao brasileiro como agora. No país da cerveja e da cachaça, a bebida relegada até há pouco tempo a comemorações e que já foi boicotada por ser símbolo do colonialismo europeu, está cabendo no bolso da ascendente classe média brasileira.
Não há pesquisas consolidadas sobre o fenômeno, mas alguns indicadores confiáveis demonstram que os preços dos vinhos – tanto os “finos”, produzidos com variedades européias, como os “de mesa” ou “de garrafão”, produzidos com uvas típicas americanas – estão se mantendo quase inalterados nos últimos seis a sete anos. E mesmo quando sobem, estão sendo reajustados bem abaixo da inflação.
O fenômeno decorre, primeiro, do aumento da concorrência entre os vinhos importados de países como Chile, Argentina, Itália e Portugal, os tipos “finos” mais vendidos por aqui. A quantidade de marcas disponíveis nas prateleiras se multiplicou na última década – incluindo aí, os produtos nacionais, campeões de venda e cada vez melhores e mais variados.
O chileno Santa Helena, provavelmente o vinho fino mais vendido no país, mantém quase intactos os preços nos últimos 5 a 6 anos. O Santa Helena cabernet reservado, por exemplo, era vendido em 2007 (safra 2004) por preço médio de R$ 22, praticamente o mesmo de hoje (da safra 2010). É o mesmo caso do argentino Finca Flichmann Roble malbec, que custava entre R$ 18 a R$ 20 há seis anos, preço idêntico ao atual. Outro argentino, o Nieto Senetiner malbec, de gama um pouco mais alta, se mantém ao redor dos R$ 30 aos R$ 32 no mesmo período. Também o brasileiro Miolo reserva cabernet sauvignon, vendido em 2007 por cerca de R$ 26, hoje gira ao redor dos R$ 29 (aumento de pouco mais de 10% em cinco anos).
No mesmo período, entre 2006 e 2011 a inflação brasileira ao consumidor (IPCA) foi de 41,6%. Também a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de preços de produtos típicos da cesta de Natal do brasileiro mostra que o ajuste do vinho tem ficado bem abaixo da inflação. Entre 2006 e 2011 a bebida (considerando preços de vinhos de mesa, ainda os mais consumidos no Brasil) subiu apenas 6.4% -- e no fim do ano passado, chegou a dar marcha à ré de 1,17% em relação ao Natal de 2010.
“A maior concorrência e o dólar baixo, que barateia a importação, parecem ser a chave dos preços mais acessíveis dos vinhos”, avalia o economista André Braz, responsável pela pesquisa da FGV.
Carlos Cabral, um dos principais enólogos brasileiros e consultor para vinhos do Grupo Pão de Açúcar – o maior vendedor de vinhos no varejo do país --, assegura: “O vinho nunca esteve tão barato no Brasil”. E ele dimensiona: “Hoje é possível comprar bons vinhos, que não vão para o tonel, mas que são honestos, a partir de R$ 19. Mesmo os maturados em barris já são encontrados por R$ 26 a R$ 27”, resume.
Cabral é o responsável por criar a figura do atendente de vinho nas lojas da rede de supermercados, uma maneira de informar o novo consumidor sobre a variedade de produtos. “Mas sem frescura. Nossos atendentes falam a língua das pessoas que ainda não conhecem muito do produto, mas querem saborear um vinho sem gastar muito”, explica Cabral, que relata um aumento nas vendas das lojas com esse tipo de profissional de 30% já nos primeiros meses.
O Pão de Açúcar vendeu no ano passado 17,4 milhões de garrafas de vinho em suas quase 600 lojas. 44% são vinhos nacionais e 70% são vinhos de mesa – os vinhos finos (feitos com uvas européias) representam 30%. Trata-se de um crescimento de quase 250% em 11 anos, já que em 2000, o grupo havia comercializado pouco mais de 5 milhões de garrafas. “O vinho deixou de ser bebida apenas da elite brasileira. Há até 10 ou 15 anos, as classes B e C só tomavam vinho para comemorar alguma coisa. Hoje já é bebida para acompanhar uma refeição comum para muita gente.”
Quando se fala em barateamento do vinho para o consumidor brasileiro, porém, leva-se mais em conta os preços nas prateleiras dos supermercados e das lojas especializadas do que os cobrados em restaurantes. Nesses locais, os valores ainda são muito altos. As margens sobre os preços de custo superam muitas vezes os 100% e dificilmente um vinho encontrado no supermercado por R$ 20 a R$ 25 custará menos do que R$ 45 num restaurante.
Mas mesmo nesses locais cresceu bastante a oferta de vinhos em meias garrafa e em taça. A modalidade, que também cresce em países europeus, resultado da crise econômica por lá, torna-se cada vez mais uma maneira de beber bons vinhos sem gastar muito – uma taca encorpada de bom tinto custa nos restaurantes de São Paulo entre R$ 15 e R$ 20 e é suficiente para acompanhar uma refeição.
“O vinho está se democratizando para o brasileiro. Os novos consumidores brasileiros da classe C estão descobrindo a qualidade dessa bebida e perdendo o medo de mudar para ela. E esse movimento não tem volta”, conclui Cabral, considerado um dos principais responsáveis pela crescente popularização do vinho no país.